ABRH Brasil

Pesquisa mostra que funcionários que fazem amigos no emprego são menos tolerantes a buscar mudanças profissionais

Por Geovana Oliveira – Folha de São Paulo

SÃO PAULO

Maria Carolina Malta, 24, acha que só não sofreu um burnout no trabalho em uma multinacional em Salvador (BA) porque os amigos que fizeram no local sempre ofereceram ajuda quando precisou.

“Tenho um colega que trabalha com um sistema operacional e eu com outro. Aprendi a trabalhar com o dele, e ele com o meu, para nos ajudarmos a concluir as demandas”, diz um estudante de engenharia mecânica que começou a trabalhar de forma remota no ano de 2020, durante uma pandemia.

Ter pelo menos um melhor amigo no local de trabalho pode fazer com que os empregados tenham uma maior satisfação em geral com o emprego e sejam menos tolerantes a procurar outro, segunda pesquisa recente do Instituto Gallup.

Em 2022, o percentual de pessoas que consideravam trabalhar em um ótimo ambiente foi de 21% entre os que não tinham melhores amigos na empresa e 44%, mais que o dobro, entre aqueles que afirmavam tê-los.

“Quando você tem um amigo no trabalho, há uma relação de confiança. Você tem um suporte emocional para lidar com dificuldades, pressão, e garante que alguém que está no mesmo contexto te compreenda, o que gera segurança emocional”, diz Vanessa Cepellos, professora de Gestão de Pessoas e Carreiras da FGV (Fundação Getúlio Vargas).

Segundo ela, os temas sobre as relações no ambiente de trabalho foram conquistados na área de recursos humanos, porque permeiam a questão da saúde mental.

Uma pesquisa conduzida pela empresa Gattaz Health & Results, liderada pelo presidente do Conselho Diretor do IPq-USP (Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo), Wagner Gattaz, mostra que aproximadamente 18% dos trabalhadores brasileiros sofrem com a síndrome de burnout , esgotamento profissional reconhecido pela OMS (Organização Mundial de Saúde) como doença ocupacional.

Como administrar o estresse

O psicólogo social Luciano Sewaybricker, do Instituto de Psicologia da USP, diz que ter amigos no ambiente de trabalho pode ajudar a evitar a doença causada pelo estresse.

“Uma das questões associadas ao burnout é quando a pessoa sente que não tem mais estratégias de enfrentamento às pressões do trabalho. Ajuda muito conversar com outras pessoas, ter parceiros de trabalho. Para se ter uma ideia, pessoas casadas em geral têm menor incidência da doença, imagina ter um grande amigo no ambiente de trabalho”, diz ele.

Além de garantir a permanência da pessoa no emprego e melhorar o bem-estar ajudando a enfrentar o estresse, ter um bom amigo no ambiente de trabalho pode influenciar em uma carreira de sucesso, segundo pesquisa feita por um grupo de professores da Universidade Rutgers, de Nova Jersey, nos Estados Unidos.

Eles descobrem que ter colegas que eventualmente se tornaram amigos aumenta significativamente o desempenho dos funcionários. Entre os motivos citados pela pesquisa, estão a possibilidade de pedir ajuda sem temer julgamentos, receber informações sobre diferentes áreas da empresa informalmente e até estar de bom humor com maior frequência.

O psicólogo Paulo Sardinha, presidente da ABRH (Associação Brasileira de Recursos Humanos), diz que a rede de confiança criada por amigos no trabalho impulsionado os funcionários de modo subjetivo, dinâmico a estimativa, mas também de forma objetiva, ajudando no desenvolvimento de carreira e oportunidades de trabalho.

“Algumas pessoas dizem que no trabalho colegas e não amigos. Prefiro acreditar que quando você tem boas e sinceras amizades todo mundo quer e rende melhor”, afirma.

Link da matéria original