ABRH Brasil

Por Rafaella Matioli e Erika Vaz*

Nos últimos dois anos, a pandemia de COVID-19 gerou vários impactos e consolidou tendências que já estavam ocorrendo, a passos mais lentos nas relações de trabalho, e que precisaram ser aceleradas no mundo todo.  Entre elas, a implementação em grande escala do trabalho remoto, ocasionando mudanças nos pacotes de benefícios oferecidos pelas empresas aos seus colaboradores e familiares, tendências mapeadas pela 13ª Pesquisa Aon de Benefícios. Realizada a cada dois anos, em sua edição lançada em 2021, entrevistou mais de 800 organizações de variados portes e de 30 segmentos diferentes da economia, em todas as regiões país. 

Nosso mapeamento identificou que, impulsionadas pela pandemia, 73% das empresas implementaram políticas de trabalho remoto. É um número muito acima do apurado nas edições anteriores, que era de 17% na edição de 2016/2017 e de 21% em 2018/2019. Além disso, anteriormente, 41% concedia apenas 1 dia em regime remoto, hoje essa periodicidade é praticada por apenas 8% das empresas, sendo que a maioria permite entre 2 e 3 dias remotos (55%) ou deixa livre a escolha dos dias (31%), o que nos mostra o interesse das companhias em flexibilizar cada vez mais este modelo.

É uma grande mudança realizada em pouco tempo, mas que gerou resultados positivos: 61% das empresas observaram aumento na produtividade das equipes, sendo que, para 75% delas, o aumento na produtividade foi de até 30%. Diante deste cenário, vemos cada vez mais a normalização do trabalho remoto entre as empresas, já que 79% delas afirmaram que pretendem estruturar ou redesenhar a política deste formato após a pandemia. Mais da metade (51%) pretende estender a condição para todos os empregados, enquanto 49% aplicarão a nova política para cargos específicos, como especialistas e lideranças.

Uma nova tendência identificada, resultante da maior adesão ao trabalho remoto, é a disponibilização de recursos pela empresa para este fim. A oferta de equipamentos eletrônicos (62%) e de mobiliário (25%) estão entre as principais. Além disso, 31% já aplicam uma forma de subsídio para as despesas mensais de luz, internet e telefone, reforçando a adesão à tendência.

O horário flexível foi outro benefício com bastante impacto, sendo praticado por 50% das empresas, frente a 38% observado na pesquisa de 2018/2019. Dentre as medidas que foram adotadas pelas companhias em virtude da pandemia, a flexibilidade de horário ocupa o segundo lugar, apontada por 33% delas.

Com uma maior flexibilização frente aos novos modelos de trabalho, surgiu também a necessidade de as empresas avaliarem a flexibilização na oferta de seus benefícios. Durante a pandemia, por exemplo, os benefícios de vale refeição e alimentação foram os mais alterados (43%), muito impactados pela súbita mudança na rotina dos colaboradores. Com esse novo cenário sendo apresentado às empresas, muitas começam a reavaliar a oferta de benefícios flexíveis, disponibilizado agora por 8% das empresas, um aumento de 5 pontos percentuais quando comparado à edição anterior da Pesquisa de Benefícios Aon.

Para aquelas que trabalham com o modelo flexível, as principais vantagens observadas foram: impacto positivo na taxa de retenção de talentos (51,4%), melhoria na percepção dos colaboradores com relação aos benefícios oferecidos pela empresa (45,9%), impacto positivo no estilo de vida do quadro de trabalhadores (37,8%) e melhoria na competitividade e atração de talentos (35,1%).

A pandemia teve considerável influência nesse comportamento e continua contribuindo para que diversas empresas repensem a forma de oferecer seus benefícios. A mobilidade é uma das vertentes de benefícios em que empresas começam a buscar novas formas de oferta; 36% das empresas disseram estar reavaliando suas políticas de locomoção, principalmente implementando ou aumentando políticas de táxi e carros por aplicativos (29%) e cancelando ou reduzindo as frotas de automóveis (14%).

Neste novo cenário, é fundamental que as empresas se mantenham abertas em integrar os modelos flexíveis, tanto de jornada de trabalho, quanto de benefícios, como partes fundamentais da estratégia das companhias. Recalcular essa rota, considerando essa abordagem, é um importante elemento para manter a competitividade na atração e retenção de talentos.

* Rafaella Matioli, Diretora de Health & Human Capital Solutions da Aon Brasil e Erika Vaz, Consultora Sênior de Pesquisa e Tendências de Benefícios da Aon Brasil.